" O tamanho das nossas bagagens de moto refletem
nossos medos."
O perigo de uma viagem de moto está
nas malas, nos baús e bolsas que levamos.
Elas podem nos impedir de apreciar a
beleza que nos espera.
Já experimentei na carne a verdade
dessas palavras, mas aprendi. Minhas malas eram sempre superiores às minhas
necessidades, e por isso minhas partidas e chegadas eram mais penosas do que
deveriam.
Andei pensando sobre as malas que
levamos em nossas viagens de motocicleta.
Elas são expressões de nossos medos,
elas representam nossas inseguranças.
Olho para um motociclista que passa
com suas imensas bagagens atreladas e fico curioso em saber o que há dentro
delas.
Tudo o que se leva, está diretamente
ligado ao medo de necessitar.
O fato é que essa bagagem toda
representa nossa insegurança, digo por mim.
No início de minhas viagens de
motocicleta, levava comigo a pretensão de deslocar o meu mundo, tinha medo do
que iria enfrentar, isso, quando ainda não existiam malas laterais, top case,
bolsa de tanque, etc., a bagagem viajava em bolsas improvisadas amarradas ao
bagageiro, envoltas em lona de caminhão.
Eu queria fazer caber no exíguo
espaço a totalidade dos meus significados.
A justificativa é racional, pois
corresponde às regras do bom senso, preocupações naturais de quem não gosta de
passar privações.
Nós nos justificamos: posso precisar
disso, posso precisar daquilo...
Olhava ao meu redor e via que as
coisas que pretendia levar não poderiam ser levadas. Às vezes durante uma longa
viagem de moto me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente
concluo que um terço do que levei não me serviu para nada.
Partir é experiência inevitável de
sofrer ausência, nisso mora o encanto da viagem de moto.
Viajar de moto é descobrir um mundo
que não temos, é o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor
do mundo que nos pertence, visto sobre duas rodas.
A partida nos abre os olhos para o
que deixamos - bom é partir, melhor é voltar.
A distância nos permite mensurar os
espaços deixados, por isso, partidas para longas viagens e chegadas são
instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que nos é essencial.
Ao ver o mundo que não é meu, eu me
reencontro com o desejo de amar ainda mais o meu espaço.
A vida e as viagens seguem as mesmas
regras, os excessos nos pesam e nos tiram a vontade de viver, por isso é
necessário partir, sair na direção da realidade.
Não carregue seus pesos, eles não
lhe permitirão adentrar o território alheio, nem enxergar de um jeito novo o
território que é seu.
Boas partidas e chegadas a todos!!!
Autor: texto por
Otavio Araujo, motociclista há mais de 50 anos. Administrador e empresário da
construção civil.